terça-feira, 10 de junho de 2008

Poliandria e o Paraíso das Mulheres?

Que a poligamia é autorizada pelo Islão, ainda que sob determinadas condições, já nós sabíamos ou já tínhamos ouvido falar. Agora que a poliandria se está a generalizar numa sociedade como a do Usbequistão, já é novidade… É um fenómeno relativamente recente e está a tornar-se comum desde há dois ou três anos, ainda que, surpreendentemente, passe quase despercebido às entidades sociais do país. É que a poliandria não é, de modo algum, autorizada. Um ulemá usbeque, (doutor teólogo, entre árabes), em entrevista à Corrier Internacional – Edição Portuguesa (nº49), onde o artigo foi publicado (de nome: «Muçulmanas com dois maridos»), comentou o assunto: «É um comportamento adúltero e elas terão de prestar contas por isso no outro mundo!». Um professor universitário de Andijan, da cidade de Boustan, diz que «mesmo na Europa cristã, ter vários maridos é amoral e na nossa fé muçulmana ainda é pior. Se uma mulher não ama o marido, só tem de se divorciar e casar com outro». Há décadas atrás, as mulheres nunca casariam uma segunda vez, nem que tivessem ficado viúvas! Isso seria impensável. É que as mulheres ainda perdoam os maridos que se aventuram com amantes, mas os maridos têm muita dificuldade em perdoá-las, quando são elas a enganá-los.
Mas a realidade é um pouco diferente, e a informação anteriormente deixada está incompleta e é insuficiente, uma vez que esta poliandria não se justifica por mera infidelidade. As mulheres usbeques estão a arranjar segundos maridos porque vêem neles formas de sustentar a família… e assim tentam superar as dificuldades económicas que enfrentam. E não o escondem, na maior parte dos casos, dos primeiros maridos… Eles têm conhecimento da situação e permitem-na porque se sabem incapazes de sustentar o lar. Abafam, porém, o assunto, inclusive dos filhos, por estarem numa condição vergonhosa. É o caso de Makhfouza, que se encontra desempregado, e que finge ignorar a situação em nome do bem-estar da família. Saïora, sua mulher, está casada com um negociante de Paitok. Outros casos há, é certo, em que a mulher se apaixona por outro e mantém uma relação com dois homens. Aí, se os dois maridos se mantêm, é por causa do amor. Shakhobiddine, pai de quatro filhos, casado com Goulmira, sabe que a mulher ama outro, mas mantém o casamento para manter a dignidade, e porque a ama. Pela lei, uma mulher casada pode desposar outro homem, se terminar o seu casamento vigente. O que se passa é que não só a lei não está a ser cumprida, como o fenómeno, que ganha proporções cada vez maiores, pode conduzir, a médio ou a longo prazo, a uma alteração polémica e destabilizante no seio da sociedade muçulmana. Estão em causa valores seculares.
Desculpem-me o título mais ou menos provocatório, mas confesso que não resisti. Antes de analisar o assunto, foi mesmo a primeira coisa que me passou pela cabeça. De facto, este costume em crescimento de cada ser humano só poder partilhar a vida ao lado de um outro, já me causou horas de pensamento. Todos nós já nos perguntámos: porquê? Não seria a nossa vida mais interessante e preenchida se partilhássemos a nossa vida ao lado de vários parceiros? Bem, uma vez que a ideia é muito à frente, polémica, e inapropriada para a dimensão intelectual deste mundo, é melhor ficar por aqui… Este fenómeno faz-nos pensar na ausência do afamado rigor islâmico… uma possível quebra dos valores em detrimento de uma melhor vida económica… A mulher parece estar a perder uma condição que parecia perpétua…
Por agora, aqui fica o artigo… Comece a pensar… Crie uma opinião sobre o assunto… e envie-ma num comentário…

3 comentários:

Miguel Munhá Fernandes disse...

É um artigo interessante, tal como a maioria dos que li... a questão que foi feita no final é que (perdoem-me pela rigidez ou qualquer coisa do género ;P)pareceu-me demasiado extremista, ou a mentalidade presente na mesma :)
Talvez não haja perguntas extremistas, visto que todos os pontos de vista devem ser debatidos... Mas pediram uma opinião; cá ficou a minha! ;D

Continuem com o blog, farei propaganda das vossas escritas ;)

Anónimo disse...

Texto interessante que leva a uma outra questão: Porque esse único homem pode ter varias esposas e essa única esposa pode ter vários maridos, se nesses casos, a poligamia de um (tanto do marido quanto da esposa) se faz à base da monogamia dos outros parceiros envolvidos... Nessa lógica de raciocínio que propus, fica evidente que numa "verdadeira" poligamia, o casamento ideal deveria ser no mínimo entre 4 pessoas, sendo 2 homens e 2 mulheres, para que tanto os homens tivessem mais de uma mulher como as esposas mais de um marido... Mas isso já seria visto pela sociedade como tara sexual e promiscuidade...

Anónimo disse...

Outra questão que quero colocar, na perspectiva poligâmica REAL que coloquei, fica a pergunta:
onde cabem 4 cabem 5? onde cabem 5 cabem 6? quais os limites da poligamia? Ela precisa de limites? sim? não? por que?