quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ele há coisas!

As propinas em Portugal são das mais baixas de todos os países da OCDE. Devem ser aumentadas de acordo com o valor do rendimento familiar e aproximar-se do custo real do ensino que cada aluno recebe. Ao pagar propinas mais altas, os universitários serão mais exigentes quanto à qualidade do ensino. E estarão a fazer um bom investimento, já que o tempo médio em que um diplomado está no desemprego (oito meses) é quase metade do de um não licenciado (15 meses).

As universidades públicas estavam habituadas a viver num mundo irreal em que não se preocupavam com a qualidade dos cursos nem com as receitas, limitavam-se a gastar o dinheiro fácil vindo dos bolsos dos contribuintes. Esse tempo acabou. Para pôr as contas em ordem, as universidades têm de aumentar as propinas e empresarializar-se, tornando-se úteis no mercado, para angariar as verbas de que carecem para viver.

Diário de Notícias

Ao ler esta parte do editorial do DN, fiquei perplexa.
As palavras deste jornalista apenas demonstram um desconhecimento da realidade no ensino superior. Uma vez mais partese do velho preconceito que apenas as classes altas têm acesso ao ensino superior. Pura "irrealidade". Todos os dias tenho conhecimento de pessoas que passam os maiores sacrifícios para conseguir pagar os seus cursos. As bolsas de estudo muitas vezes não chegam para suportar todo o custo de um estudante deslocado que, tal como todos nós, tem direito a ter objectivos de vida.
Realmente os estudantes serão mais exigentes quanto aos seus direitos mas, sinceramente, este é um argumento uma vez mais "irreal". Os estudantes (pelo menos uma parte) preocupam-se com os seus direitos independentemente das propinas serem ou não elevadas.
Relativamente aos rendimentos familiares, parece-me uma forma de análise completamente "irreal". Não será mais adequado ter-se em conta o "custo médio por aluno" na altura do estabelecimento das propinas? Adoptando este método apenas se iria abrir mais espaço para "falcatruas". Senão veja-se um exemplo: Todos nós sabemos que na altura das bolsas de estudo, muitas pessoas declaram os seus rendimentos muito abaixo daquilo que realmente recebem. Quem nos pode garantir que o mesmo não acontecerá com este método "irreal" de fixação do valor das propinas.
O senhor jornalista fala no ensino superior público. Aconselho-o vivamente a consultar a CRP, que estabelece no seu artigo 74º/1 "Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar". Poderá o senhor jornalista explicar-me como se garantirá esta igualdade de oportunidades? Neste ponto não falo apenas no método que sugeriu para a fixação do valor das propinas mas também na "empresarialização" das universidades que sugere. O que acontecerá com esta medida será a privatização do ensino superior com o aumento descabido das propinas. Realmente os estudantes lutarão mais pelos seus direitos. E agora pergunto eu: e a "igualdade de oportunidades" e a "liberdade de acesso"? Não serão estes os verdadeiros direitos a ter em conta?

Duvido que a solução não passará por estes métodos.
Poderá passar pela implementação de maiores esforços na atribuição de bolsas de estudo a quem realmente precisa e por um maior apoio social aos estudantes carenciados que vejam só, muitas vezes vêm os seus sonhos pelo caminho devido aos elevados custos do ensino superior em Portugal.

1 comentário:

FaDreH disse...

Esse deve ser o que descobriu o cigarro do Sócrates :X